Enquanto ia me desfazendo das esperanças, lembrei-me da última vez que as tinha tido. Já
estava onde estou, aqui neste sítio onde me vou deixando ser. Também lá atrás
tropecei no meu próprio passo. Depois dos habituais primeiros sinais de euforia
e de otimismo que parece sempre que me conseguem anular a recordação, vem aquela
espécie de silêncio, cheia de silêncios dentro e com eles, a dúvida, a dúvida
pintada de vermelho forte. A seguir a ela, a cada momento que passa, de mais
silêncios e dúvidas garridas, aquele som que vai ecoando mais e mais, nos tímpanos,
como um tambor de uma orquestra em crescendo, sugerindo, para dentro de nós, para
com o eu que nos falhou, a revelação, do que não se quis antecipar. Depois o
frio da sala deserta e abandonada, no resquício da condição que, mesmo após
tantas outras repetições, nos ludibriou de novo. Está frio aqui. Tanto frio. Os
sons continuam altos e ressoam opacos e lentos na minha cabeça. Não lhes
distingo emissor, nem mensagem. O que fazer? Para onde ir quando o caminho em
frente se fecha? Quando as oportunidades, por própria culpa, se esfumam por
entre os dedos das nossas mãos? Dói-me por dentro a culpa. O falhanço de novo.
Sempre ele que surge para me levar de volta ao meu lugar-comum. Parece que só
aí poderei ser. Lembro-me de novo. È nele que terei de abdicar e deixar-me contentar.
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