Enquanto
ia no táxi, pensava na cidade e na sua luz, nas pessoas de lá para cá, no rio
ao fundo a cortejar-me, numa sincronia despropositada. Aí, pensei no sentido da
vida e nos seus inquietantes porquês. Como se tivesse 15 ou 16 anos de novo.
Pensei em deixar tudo e vir para casa. Ou sucumbir à luz e ficar por ali
entretida com ela numa esplanada no empedrado de alguma rua. Há dias em
que a luz da cidade me confrange de tão límpida e cristalina, uma tela em
branco, limpa à mercê de tantas possibilidades e escolhas. Saí do táxi e
apressei-me a atravessar a avenida para não me atrasar. Subi ao sétimo andar e ainda
tive tempo para fitar as vidraças retangulares, com vista por cima dos prédios de
geometrias harmoniosas e arquiteturas requintadas de outros tempos. Envelhecidos
mas belos, como que pintados de fresco com pinceladas transparentes de luminosidade.
Respirei a claridade que entrava na janela e senti-me feliz por estar assim, no
impasse da minha ambiguidade intermitente que se manifesta quando menos se
espera, especialmente em dias como o de hoje onde a cidade se veste destas metamorfoses
de luz que ofuscam, aquecem por fora e desassossegam por dentro.
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