segunda-feira, 10 de março de 2014

Labirintos de Luz

Enquanto ia no táxi, pensava na cidade e na sua luz, nas pessoas de lá para cá, no rio ao fundo a cortejar-me, numa sincronia despropositada. Aí, pensei no sentido da vida e nos seus inquietantes porquês. Como se tivesse 15 ou 16 anos de novo. Pensei em deixar tudo e vir para casa. Ou sucumbir à luz e ficar por ali entretida com ela numa esplanada no empedrado de alguma rua. Há dias em que a luz da cidade me confrange de tão límpida e cristalina, uma tela em branco, limpa à mercê de tantas possibilidades e escolhas. Saí do táxi e apressei-me a atravessar a avenida para não me atrasar. Subi ao sétimo andar e ainda tive tempo para fitar as vidraças retangulares, com vista por cima dos prédios de geometrias harmoniosas e arquiteturas requintadas de outros tempos. Envelhecidos mas belos, como que pintados de fresco com pinceladas transparentes de luminosidade. Respirei a claridade que entrava na janela e senti-me feliz por estar assim, no impasse da minha ambiguidade intermitente que se manifesta quando menos se espera, especialmente em dias como o de hoje onde a cidade se veste destas metamorfoses de luz que ofuscam, aquecem por fora e desassossegam por dentro.
 


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