De
noite converso em silêncio com a minha avó paterna que me fala das rosas
encarnadas que apregoava por Alfama há muitos anos atrás. Que me conta como, no
intervalo da escola, o meu pai gostava de papos-secos com marmelada, que ia
ganhando dos outros colegas em troca de umas tabuadas feitas em compasso de
corrida antes da campainha antes de mais uma aula. Como o cabelo dele era
encaracoladinho, assim como o meu.
O
seu nome é Rosa Fragoso. Tenho-a sempre para mim. Não tive hipótese de a
conhecer, mas de alguma forma sinto como se já tivéssemos sido apresentadas.
Pelas poucas fotografias talvez. Lembro-me em pequena de a olhar com curiosidade
e de me terem contado que era a minha avó paterna falecida há já muito tempo no
dia de natal, havia o meu pai 3 meses de idade. Hoje sinto que a levo comigo numa
medalhinha cor de latão invisível ao pescoço. Ainda que não tenha muita
informação sobre a sua vida, sem que foi daquelas pessoas que se sentiu
infeliz, mas também e essencialmente, feliz. Sei que viveu plena ainda que
pouco.
Por
vezes sinto o peso da responsabilidade dela nos meus ombros. De me realizar,
para a realizar a ela. Por um intento maior. Por uma necessidade inexplicável
de um amor que nunca tive hipótese de expressar. Sei que foi uma grande mulher,
pobre, condigna, alegre e ingénua, mas não por isso menos forte. Destemida e
meiga ao mesmo tempo. Eu queria realizar-te. Descobrir-me, para te deixar
orgulhosa de mim. Às vezes sinto-me um pouco como tua filha também.
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